Ana Salgueiro Teatro - Aveiro

domingo, 4 de outubro de 2015

PORTUGAL SLAM 2015 Lisboa

Foi um privilégio participar nisto, no meio de tantos especialistas fantásticos e experientes na matéria.

Não que isso seja importante mas porque muitos perguntam fica aqui o esclarecimento.
Éramos 10, fiquei nos 5 que não passaram à fase seguinte com uma pontuação rondando a média de 7,5 (quando nos pontuam a pontuação mais baixa e a mais alta não contam, eram cinco elementoas no júri creio). Nas palmas creio que foi 8,2. Mas não chegou para satisfazer o júri nem para avançar.

Seja como for adorei, simplesmente!

Deu-me um gozo imenso, estar ali, a matar a sede de palco. E abriu uma vontade imensa de continuar e fazer mais e melhor.

Tinha preparados mais dois poemas. É sempre difícil decidir qual devemos ler primeiro, afinal é um jogo. Ficamos sempre com a sensação que podemos não ter escolhido bem. Mas a vida é demasiado curta para este tipo de penas :)

Assim, o único poema que li nesta prova foi dito na primeira eliminatória de Aveiro. Aqui fica.

Mais abaixo as fotos da minha representação e aqui o link para todas as fotos do evento.

(Fotos do Portugal Slam 2015).

Mas mais importante ainda foi fazer novos amigos e conhecidos.

O Ator

Eu também sou poeta…
Disse o ator, com o olhar perdido, atirado para o fundo da sala…
Com o livro na mão direita…
Com o braço esquerdo a cirandar pelo ar….
Eu também sou poeta…continuava ele, o corpo retesado. 
Eu também sou poeta, ouviram? 
…………………………………………………………….
E o ator não reagia ao silêncio nem ao silvo dos pensamentos dos outros. 
Com um torpor ténue, ficava ali quieto, segurando o momento.
‘Tremu-luzente’ (uma mistura entre o trémulo e o que deita luz), 
Os olhos rasgados de dor e desejo.
Eu também sou poeta…dizia….
O actor sente instantaneamente uma dor intensa se for preciso.
Sente no presente uma dor quente se for preciso.
O actor sente e o olhar turva-se.
Pois claro que é poeta.
Eu também sou poeta dizia o actor….…
Ninguém dizia nada.
Ninguém dizia, ninguém na verdade sentia o que o actor sentia.
Eu também sou poeta, dizia ele e rangia os dentes, reluzentes…
Com vontade de comer esfregões da loiça…ou de ter alguém que o ouça. 
De repente a corda imaginária que o segurava partiu-se com um barulho seco….pac…
E ele caiu de joelhos.
Eu também sou poeta, dizia o actor
E gritava sem se cansar….
Eu também sou poeta….E o seu corpo rimava…
Coelho com joelho
Romã com maçã
Janeiro com primeiro
Situação com coração….
Cantava cantigas de amigo…Estrofes secas…como o trigo
Agitava os braços no ar….a querer ser dramático….
Mas sem perder o sentido prático…
Porque o actor sente instantaneamente uma dor intensa se for preciso.
Sente no presente uma dor quente se for preciso.
O actor fecha os olhos e grita
Aaaahhhhhhhhhhhhhhh
Eu também sou poeta….
Alguns braços surgem para o levantar do chão…
E ele sacode-os….deixem-me em paz porque eu também sou poeta e 
hei-de levantar-me do chão.
Eu vim aqui para ser poeta…..
Eu também sou poeta…

Aperta o livro contra o peito......baixa a voz e os olhos e sai de cena. 









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