Ana Salgueiro Teatro - Aveiro

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Obrigada CETA pelo que 'Aconteceu neste palco'

Por ocasião do aniversário dos 56 anos do CETA (comemorados com pompa e circunstância ontem) fui convidada para uma palestra sobre o palco, juntamente com o Jorge Fraga, o Joaquim Vargas e o Zeca Fino, que aceitei com muita honra. Para falar sobre histórias de palco.

São muitas as histórias sobre aquele palco, muitas venturas, muitas aventuras.
Peguei nas que são a minha memória mais direta porque são peças que encenei, cujos textos escrevi ou nelas participei. Escrevi à pressão, duas horas antes da sessão, este texto, olhando para a cronologia para não me esquecer de nada.

É uma rima torta, mas que saiu direta do coração. Isso é certo. Relembrando todos os bons momentos. E é só isso que importa e importará sempre.

Obrigada Ceta.

Aqui vai:

Aconteceu neste palco…

Aconteceu neste palco, não começa bem,
Pois não me lembro de nada que rime com palco.
Talvez pó-de-talco, mas isso é coisa que este palco, não tem.

Aconteceu aqui atrás deste pano, talvez fique melhor
Olha, aconteceu o Papiniano, menino que tinha um plano
E que da sereia, se perdeu de amor.
O Vargas lá estava para conduzir a cena,
Amigos do catano, amigos que valem a pena,
Acontecem sempre neste palco, ano após ano.
Às vezes toda a semena.

E quando Roubaram a lua? O mestre agulhas, a ria sem sal,
O Arlindo, o Lau, o Romeu, a Filipa, a Paula, o Artur, o Vargas, o Camilo, a Teresa, a lista é interminável, eram tantos, todos a marchar, desculpem, vou parar,
Mas todos foram de um brio tal, todos foram de tanto esforçar,
Que até para lá dos mares, na ilha do sal,
Desta gente se deve ter ouvido falar.

Por esta ocasião nasceu o Manelinho, 
grande inspiração para o resto do meu caminho.

Depois veio a Tricana, deusa de aço
Navegando através do espaço,
A Patrícia e o Mané
Sem perderem o pé
Atravessando a ria, mas não a nado,
Vinham na sua nave espacial
E ninguém lhes levou a mal.
Pois vinham para conhecer as gentes do passado.
Ah isso foi espantanífico, pois saiam todos de dentro de um frigorífico!!
O Arlindo e o Lau,
Improvisavam sempre a cena em que assavam mesmo o bacalhau!
Não ficava muito mal,
Mas era o desespero do Samy
Que é um grande profissional.

Enfim, o tempo foi passando, um dia de cada vez,
E depois vieram todos outra vez
Eu tu ele nós vós eles,
Todos num quarto dos anos 70, todos a cantar
São dois braços, são dois braços, servem para dar um abraço....
Até o Sérgio Godinho veio depois visitar este povinho.
Foi por essa altura, que nasceu o Pedrinho.

Depois para a Agustina não ficar triste
Reinventou-se-lhe a felicidade,
E não mais a Agustina teve de penar.
Canta Agustina canta,
Canta que o homem do Balon, um dia, vem-te buscar.

O Polegarzinho era pequenininho,
Alguns queriam fazer-lhe mal,
Mas ele sempre se escapava,
Porque era um espertinho tal
Que nunca ninguém sabia bem onde ele estava.
O Morais assustava os meninos,
Com os seu passos de gigante.
Mas tinha farfalhudas sobrancelhas,
E de um grande actor, o semblante.

Depois vieram as Mulheres.
Ai as mulheres, ai o mulherio!
Se perguntarem ao Samy,
Certamente ele dirá que a melhor parte,
Foi tirara-nos uma fotografia às costas
Com toda a sua arte.

Depois o Diabo veio cá fazer das suas
Pedimo-lo emprestado ao Castrim.
E como era um Diabo de luas, um pouco assim-assim,
Para o fazer não foi preciso uma pessoa
Mas sim duas.
O Morais e a Cláudia deram o corpo ao manifesto e meteram dentro do cesto, um montão de almas perdidas e nuas.

O Rapaz Bicicleta chegou a pedalar.
Não era de Roma nem de Pavia
Era o Zé 'de' Albergaria!
Encontrou o seu amor,
Montou a sua máquina
E pôs-se a andar.
Adeus, até um dia!

É tudo verdade isto, tudo verdade,
Porque aqui neste teatro, seja de noite ou de tarde
Não vale a pena mentir, não vale a pena ficar gaga.
Porque aqui se não se ganha, não se paga.

Depois o Incrível Rapaz Bicicleta
Sonhou com gente a cantar
O Mané, a Catherine, a Ana, o Carlos, o Arlindo, o Sergio, o Maricato, a Fátima.
Tinham uma vontade incrível de partir para o alto mar
Dar a volta ao mundo
Ir a cima, ir ao fundo
E navegar, navegar.

Nem de todos aqui falei, porque senão não me calava.
Mas é bom partilhar com tantos, que são muito mais que quatro,
Tanta força brava, Tanto amor ao teatro

Finalmente o Rapaz acordou para a vida neste palco de tábuas lisas e escuras
Respirou fundo, perdeu as tremuras,
Sentiu-lhe a vibração
Estou no CETA caramba, bate-me o coração!
Viva o teatro, vamos passar à ação!

(E três vivas para a nova direção!)


Foto do Samy, na peça 'Não se Ganha não se Paga' de Dario Fo, encenada pelo Jorge Fraga (CETA - 2013)
Na foto eu e a Cláudia Alexandrino.